Espiritualidade e bioética: o lugar da transcendência horizontal do ponto de vista de um bioeticista laico e agnóstico
DOI: 10.15343/0104-7809.200731.2.2
Palavras-chave:
Espiritualidade. Humanismo. Transcendência.Resumo
No texto apresentado, pretende-se abordar, de forma introdutória, a questão complexa e polêmica do sentido da espiritualidade em ética
num mundo secularizado e “globalizado”. Em particular, pretende-se mostrar qual é, ou poderia ser, o lugar reservado à espiritualidade na forma de
ética aplicada conhecida como bioética, num mundo cada vez mais consciente de sua contingência e historicidade, mas, ao mesmo tempo, percorrido
por anseios de vários tipos relativos ao desejo e à frustração, à vida e à morte, à corporeidade e ao sofrimento, às relações intersubjetivas, à relação
com a alteridade e com a divindade, à salvação e à perdição, dentre outros, e que remetem, de alguma forma, àquilo que podemos chamar, genericamente,
de transcendência. O texto pretende, também, fornecer uma espécie de mapa sobre algumas questões, teóricas e práticas, relacionadas à
questão da transcendência, a qual deve ser melhor definida, distinguindo uma transcendência vertical e uma transcendência horizontal. A primeira
é uma transcendência stricto sensu, defendida, por exemplo, pelo cristianismo; a segunda é uma transcendência defendida, por exemplo, pelo existencialismo
e o humanismo ateus contemporâneos e que deveria ser caracterizada, mais corretamente, como uma forma do imanentismo, mas que
pode, ao mesmo tempo, recuperar um aspecto da primeira quando associa o conceito de Homem ao conceito de Deus na expressão Homem-Deus
(Ferry, 1996). Esta é, de fato, uma reformulação da simbologia cristã da Cruz, que indica, em substância, a possibilidade de um encontro entre os
domínios do sagrado e do profano, mas sem priorizar lexicalmente o primeiro e invertendo o sentido da hifenização representada pelo conceito de
“Deus feito homem” simbolizado pela figura do Jesus cristão.